Imagine um espaço famoso, um tanque que, vez ou outra, anjos celestiais visitavam para agitar as águas do pedaço. E, acreditem, está na bíblia que o primeiro que conseguisse pular no tanque enquanto as águas se moviam era curado de toda e qualquer enfermidade. Se hoje em dia pais e mães se revezam para conseguir garantir a vaga dos filhos na escola pública, dormindo duas ou três noites no tempo antes da distribuição das senhas, não precisamos ir muito longe para imaginar a quantidade de pessoas que ali ficavam, literalmente, à espera de um milagre.
Para surdos ou leprosos a coisa até que era fácil, pois tinham a capacidade de enxergar, correr e disputar o tibum miraculoso. Duro devia ser para os cegos, que até ouviam, mas não conseguiam vencer os maleditos surdos e leprosos, exímios mergulhadores de tanque. Pior que os cegos, só os paralíticos, que ouviam, viam o caminho, mas ficavam imóveis, dependentes da misericórdia de alguém que os carregasse e os jogasse nas águas. Se fosse eu, pelo menos umas muletadas eu tentaria dar. Aliás, vamos combinar, devia ser um Deus nos acuda.
Certa vez um paralítico que há trinta e oito anos sofria com a limitação, diante do “abençoado tanque”, esperando mais uma visitinha dos anjos celestiais, encontrou um homem diferente dos curiosos que também se acumulavam no local. O homem então se aproximou, sabendo que o paralítico já sofria há tanto tempo, e com leveza e mansidão fez a seguinte pergunta: você quer ser curado? O paralítico, ao invés de responder de forma agressiva a pergunta de resposta óbvia, ponderou e disse: claro que quero, mas toda vez que as águas se movem, não encontro quem me leve até o tanque; outros sempre chegam antes. Então o homem, com a mesma mansidão, sem mesmo tocá-lo, mas olhando no fundo dos olhos do paralítico, ordena-lhe: levante, pegue a sua maca e ande. A bíblia nos conta que o doente imediatamente ficou curado, deixando a sua paralisia que há tanto lhe perturbava.
Jesus podia ter feito chover, as águas saírem do tanque e cair sobre todos que ali estavam, mas se deteve ao paralítico. Não fez show, nem questão de dizer quem era, mas lhe deixou um alerta: vá e não peques mais, para que algo pior não lhe venha a ocorrer.
Quantas vezes ficamos paralisados, paralíticos, diante de situações em que precisamos levantar, pegar a maca e andar? Mas a nossa natureza, nossa fézinha não é capaz de nos fazer agir e crer que podemos. Este texto me pegou de jeito e sempre que volto a ler passo a enxergar, ouvir e a andar, mesmo que um passo da cada vez, na direção da cura que Jesus já ordenou. Ele fez tudo que podia fazer; você e eu que muitas vezes não cremos. No fundo, ficamos a espera de alguém ou algo, preferencialmente místico e brilhante, que nos tire da enrascada que invariavelmente nos metemos.
A maturidade espiritual que esta passagem nos ensina é que Jesus, o milagre em pessoa, sem colocar as mãos, nem dar aquela cuspidela santa, como fez com um dos cegos que curou, convidou o paralítico a levantar, mas também a pegar suas “tralhas” e não voltar a pecar.
Precisamos aprender a levar uma vida limpa, mais leve, sem buscar em outros ou em algo que não em Deus a força para largar a paralisia. Seja ela emocional, profissional, existencial, ministerial ou qualquer outro “al” que estiver lhe prendendo ao chão.
Liberte-se; Ele já faz tudo que precisava ser feito. Sua última frase foi: está consumado.
Por Daniel Argolo
quinta-feira, 29 de abril de 2010
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